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Panapaná curvelano


By Geraldo M. Pereira | agosto 29, 2015 | Category Insetos


Panapaná é uma palavra que se movimenta, não é pronunciada sem que sejamos logo levados a uma sensação de bulício. E a sua raiz, panã – bater em tupi – é a própria dinâmica falada. Assim os índios denominam os seres coloridos esvoaçantes do dia, as borboletas que se multiplicam na primavera principalmente em sua agitação contínua, o panamã. Não se trata literalmente de um termo nascido para designar um coletivo, uma coleção – mas a linguagem, em sua permanente reinvenção, nos permite essas adaptações. Então, ao panamã de diversas borboletas, o panapaná, convencionou-se designar como o coletivo de borboletas,  mesmo que para alguns seja uma bela pedida de licença poética. O termo se aplica também para as mariposas. Aliás, o que diferencia uma borboleta de uma mariposa?


Da esquerda para a direita: 1 – Barbicornis basilis paraopeba 2 – Castanha-vermelha (Heliconius erato phyllis) 3 – Arawacus tarania 4- Synargis axenus 5- Temenis laothoe 6- Cabeça-de-fósforo (Urbanus proteus)



Diferença entre borboletas e mariposas 

Borboletas e mariposas são insetos da ordem Lepidóptera – que se origina da junção dos termos gregos Lepis,lépido = escamas e Pteron, ptero = asas,“[inseto] no qual as asas são formadas por escamas”. Aliás, as escamas são encontradas não somente nas asas como também nas patas e na maior parte do corpo desses insetos. Assim, podemos entender aquele pozinho que fica na mão quando pegamos em uma borboleta. O pó origina-se da descamação do inseto e não deixa ninguém cego se entrar em contato com os olhos. É importante salientar que manipular esses animais não é um ato correto já que pode trazer alguma consequência ruim para ele como a destruição de estruturas da asa, além de não ser higiênico: borboletas e mariposas têm o hábito de pousar em fezes e animais mortos em busca de sais minerais que compõem a sua dieta.

Agora, olhando as imagens abaixo, você sabe distinguir qual das espécies é uma borboleta e qual é uma mariposa?

Utetheisa ornatrix
Hermeuptychia sp.
A distinção entre uma e outra nem sempre é uma tarefa fácil, pois os mesmos aspectos podem ser apresentados entre elas. Borboletas, de um modo geral, possuem uma coloração mais vibrante, e mariposas, uma coloração menos vistosa – embora algumas mariposas apresentam uma destacada coloração sobressaindo mesmo diante algumas espécies de borboletas; borboletas são diurnas e mariposas são noturnas – embora muitas mariposas possuem hábitos diurnos; borboletas quando pousadas deixam as asas em posição vertical enquanto que as mariposas pousam geralmente de asas abertas. Uma característica observada apenas em mariposas é o fato de, na fase de pupa, produzir seda com a qual faz o seu casulo. As antenas das borboletas são finas terminando dilatadas enquanto que as mariposas têm as antenas filiformes – como um fio – ou plumosas – semelhante a plumas.


Como já foi dito, algumas das características são compartilhadas entre diversas espécies sendo necessária uma análise mais cuidadosa em determinados casos para se definir se estamos diante de uma borboleta ou uma mariposa. 
Nos exemplos mostrados acima a primeira espécie é uma Utetheisa ornatrix ou mariposa-da-crotalária, uma bela mariposa da família Arctiidae responsável por infestações que causam sérios danos a plantações de crotalária, planta utilizada como forrageira em algumas regiões do Brasil. A outra é uma Hermeuptychia sp., borboleta da subfamília Satyrinae, família Nymphalidae.

Importância ecológica





Da esquerda para a direita: 1- Borboleta-oitenta (Callicore sorana) 2- Borboleta Imperatriz (Danaus gillipus) 3-  Anthanassa ptolyca amator 4- Ortilia ithra 5- Mariposa-vespa (Antichloris eriphia) 6- Borboleta-quatro-pontos (Melanis hillapana)

A presença de determinadas espécies em um ambiente pode ser um indicador das condições gerais do meio. Algumas espécies apresentam exigências ecológicas que não se adaptam, por exemplo, a um ambiente poluído, outras se adaptam de tal forma que chegam mesmo a ter um acréscimo populacional. Essas espécies são chamadas de bioindicadores. Algumas espécies de Lepidópteros podem sofrer alterações no seu ciclo de vida diante de variações em seu meio. Foi observado um aumento na ocorrência de diversas espécies após a canalização do esgoto que caía no córrego Riacho Fundo em Curvelo – situação que trouxe relativa melhora nas condições do córrego e na matas que o circundam, embora esteja ainda muito longe de uma condição ideal. 
Nota Pessoal: Espécies como Pyrrhogyra neaerea e Barbicornis basilis paraopeba foram observadas em uma região ao longo do curso d’água dois anos após a canalização do esgoto, o que pode ser compreendido como um indicativo de que a ação de despoluição influenciou positivamente dando condições para que as referidas espécies pudessem se reproduzir e se alimentar. 

Em um ambiente equilibrado os lepidópteros desempenham um importante papel em duas frentes no desenvolvimento dos vegetais. Na sua fase larval – primeira após a eclosão do ovo, comumente conhecida por lagarta, taturana, mandruvá, dentre outros – regulam o crescimento das plantas hospedeiras, inibindo dessa forma um possível estouro populacional.  Em sua fase adulta agem de forma a contribuir para o desenvolvimento populacional dos vegetais através da psicofilia. 

Psicofilia



Exemplos de psicofilia: Da esquerda para a direita: 1- Dione juno 2- Brangas torfrida 3- Proteides mercurius


Chama-se psicofilia a polinização feita pelos insetos da ordem Lepidóptera. Entende-se por polinização a transferência do pólen de uma planta para a outra permitindo assim a reprodução nos vegetais. Borboletas são geralmente atraídas por flores de coloração viva, geralmente tons de vermelho e alaranjado. Mariposas por sua vez, devido ao fato de a maioria possuir hábito noturno, são atraídas por flores de coloração pálida ou branca. A presença de corola longa em algumas espécies botânicas polinizadas por lepidópteros mostra uma adaptação para que o processo de polinização tenha a eficácia esperada. Ocorre nesse caso uma troca, enquanto os lepidópteros contribuem para o desenvolvimento das plantas são em contrapartida beneficiados pelo néctar que lhes dá energia para continuar o seu próprio desenvolvimento. 

Ameaças para a agricultura




Da esquerda para a direita a fase adulta das seguintes espécies: 1- Borboleta-brancão (Ascia monuste orseis) 2- Curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes) 3- Falsa-medideira (Pseudoplusia includens)

A intensa interferência nociva de uma determinada espécie no desenvolvimento de outra pode ser entendido como praga. Algumas espécies de lepidópteros causam importantes danos para a agricultura. A lagarta-da-couve – fase larval da borboleta Ascia monuste orseis, conhecida também como borboleta-brancão – talvez seja o mais comum exemplo de lepidóptero identificado como praga. A lagarta-militar ou curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes)  é uma importante causadora de prejuízos em uma infinidade de lavouras como as de milho, arroz, amendoim, alfafa, aveia, cevada, soja e sorgo. Já a falsa-medideira (Pseudoplusia includens) é uma das principais dores de cabeça para os produtores de soja. As suas lagartas devoram vorazmente as folhas deixando-as com um aspecto rendilhado. A principal causa da infestação por P. includens está na ausência de seus predadores naturais – como os fungos entomopatogênicos (que causam doenças nos insetos).

Vale salientar que a ação dessas e outras espécies está geralmente ligada a alguma condicionante de desequilíbrio – excesso ou escassez de oferta de alimento, introdução de espécies no ambiente, desmatamento, ausência do predador natural entre outros. 

O perigo de algumas espécies para a saúde humana

Lagarta de mariposa da família Erebidae. Embora não cause 
acidentes graves o contato com elas  pode gerar intoxicações 
e irritação na pele.

Um conceito básico que levo comigo é o de evitar ao máximo interagir com o ser vivo observado. Como expectador da natureza entendo que a minha função é buscar o maior número de informações possível sem perturbar a mecânica do meio. Com alguns seres vivos esse conceito deve ser levado mais a sério devido ao risco que eles podem representar. É o caso das lagartas.

Quanto mais “ornamentos” a lagarta tiver maior o perigo. O contato com as cerdas – popularmente conhecidas por pelos – dessas lagartas pode causar diversos problemas de saúde e inclusive levar a morte. Obtenha mais informações no site do  Centro Virtual de Toxinologia e conheça algumas das espécies que não podem em hipótese alguma ser manipuladas em  HypeScience.


Da esquerda para a direita: 1- Mariposa-falcão (Ambulyx pryeri) 2- Arcas imperialis 3- Udranomia spitzi 4- Pavão-vermelho (Anartia amathea) 5- Pavão-branco (Anartia jatrophae) 6- Dircenna dero



Metamorfose

Nas fotos acima podemos observar diversos estágios da vida dos Lepidópteros. Da esquerda para a direita: 1- Dysschema irene na postura dos ovos 2- Ovos de Dysschema irene 3- Lagarta de Rothschildia sp .4- Lagarta de Selenisa sueroides 5- Casulo de Danaus plexippus erippus 6- Adulto de Ariconias glaphyra

Os insetos da ordem Lepidóptera passam por um processo de metamorfose completo, ou seja, ao sair do ovo a larva ou lagarta se alimenta intensamente chegando há poucos dias a dobrar de tamanho depois entram no estágio de pupa – pupas de borboletas são chamadas de crisálida ou casulo enquanto que as pupas de mariposas que produzem seda são denominadas apenas de casulo. Após empupar o inseto passa por uma transformação ainda maior e, após um período que varia de espécie para espécie, eclode da crisálida o imago ou adulto. Os insetos que passam pelo processo completo de metamorfose são chamados de insetos holometábolos.

Curiosidade: um termo antigo para designar o estágio da crisálida era aurélia – que originou aurélio, estudioso do processo de saída da borboleta do casulo.

Da esquerda para a direita: 1- Maria-boba (Junonia evarete) 2- Hamadryas amphinome 3 –  Mariposa-vespa (Macrocneme sp) 4- Tyzania zenobia 5- Borboleta-de-tromba (Libytheana carinenta) 6- Borboleta-do-girassol (Chlosyne lacinia)

Lepidópteros em Curvelo

Em Curvelo foram catalogadas diversas espécies de borboletas e mariposas, numero que tende a crescer, já que a cidade  mantém importantes áreas nativas que certamente escondem uma grande variedade desses animais. Muitas espécies endêmicas do cerrado – como Udranomia spitzi –já foram encontradas no município, o que torna a preservação dos seus habitats uma necessidade real e urgente.

Da esquerda para a direita: 1- Borboleta-tigre (Lycorea halia discreta) 2- Calephelis aymaran 3- Euptoieta hegesia 4- Pingos-de-prata (Agraules vanillae) 5- Pyrrhogyra neaerea 6- Syngamia florella


Veja também: Insetos e aracnídeos


Saiba mais em Insetologia, Borboletas e Mariposas, Escola Kids, Tudo sobre borboletas, Uol Educação, Consultório Etimológico, Jardim de Borboletas, Instituto de Zoobotânico Morro Azul, Jornal da Unicamp, Infoescola, Toda Biologia.com, O que é uma praga, Insetário Virtual, Biomania, Só Biologia . Pesquise no Facebook pelos grupos Borboletas e mariposas brasileiras, Insetos, Entomologia Brasileira.

GMJP


4 thoughts on “Panapaná curvelano”

  • Jaci Contabilidade disse:
    agosto 29, 2015 às 11:57 pm

    Texto muito bonito e de conteúdo. Aprendizado sobre esses insetos que todos gostam apreciar sua beleza, mas poucos sabem diferencia-los.

    Responder
  • Unknown disse:
    agosto 30, 2015 às 2:38 am

    Excelente e didático. Muito bem escrito e claro. Parabéns.

    Responder
  • Anônimo disse:
    dezembro 30, 2015 às 6:56 pm

    Apreciei muito. E o artigo vem acompanhado de excelentes fotos, que exigiram muita paciência, além do ótimo domínio técnico da máquina. Parabéns, Geraldo.
    Prof. Jayro (profjayro@profjayro.com.br)

    Responder
  • Geraldo M. Pereira disse:
    dezembro 30, 2015 às 7:31 pm

    Professor Jayro, obrigado, logo publicarei sobre o pequi, o ouro do cerrado.

    Responder

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