Curvelo Fauna e Flora
Menu
  • Início
  • Flora do Centro Mineiro Vol.1
  • Flora do Centro Mineiro Vol.2
  • Contato
  • Início
  • Flora do Centro Mineiro Vol.1
  • Flora do Centro Mineiro Vol.2
  • Contato

Você conhece a mutamba?


By Geraldo M. Pereira | agosto 31, 2015 | Category Botânica

“As pétalas são infladas, mas só quem as vê de muito perto vai notar sua beleza especial.”
Celso Paiva
Flor de Mutamba (Guazuma ulmifolia)

É de conhecimento geral a extraordinária contribuição de  Carolus Linnaeus ao convencionar o sistema taxonômico (corre uma tentativa de me convencer a chamá-lo de Carlos Lineu, mas tamanha deliberação vai totalmente em desencontro com o que aprendi com os mestres da Escola Estadual Irmã Clarentina e mais tarde no Colégio Padre Curvelo; assim, fico com C. Linnaeus mesmo, nesse íntimo).
Quando menino cansei de comer dessa frutinha de casca preta, dura e seca, o “pinhão-manso”, hora “pinhão-bravo”- o nome dependia do humor do adulto que indicava. Mutamba era outra coisa, sinônimo de mulher feia ou coisa desagradável – a língua e os costumes dos lugares são deveras misteriosos… Consta do saber de minha avó que esse “pinhão manso bravo” era bom para curar sangue remoso (?) mas não podia comer muito por se tratar de fruto quente (??). E assim fui crescendo até saber que pinhão-manso e pinhão-bravo eram definitivamente outras coisas e que mutamba era na verdade o que eu comia meio a contragosto (vejam só!). Essa mutamba tinha lá seus tantos outros nomes: camacã, guacima, pojó, coração negro (esse é o melhor!) e que vieram, de acordo com Linnaeus a definir para todo o universo conhecido e desconhecido que o que refestelava o meu paladar na verdade era Guazuma ulmifolia.

Curiosidade: O gênero botânico “Guazuma“,ao qual a mutamba pertence, pode ser escrita também da seguinte forma: “Guazuma Mill.”. A abreviatura “Mill.” direciona para o estudioso que fez a descrição do gênero. É, portanto, uma referência ao botânico inglês Philip Miller, que descreveu também o gênero Vanilla, de plantas da família Orchidaceae.

Da esquerda para a direita: 1 – As folhas da mutamba lembram as das plantas do gênero Ulmus L., o que explica o descritor específico “ulmifolia“(como as folhas do olmeiro) 2 – Fruto verde 3- Fruto maduro. Os frutos da mutamba apresentam sempre cinco fendas longitudinais.

A mutamba é uma bela árvore da família Malvaceae que alcança de cinco a dez metros de altura (já vi pés que tranquilamente passavam disso). A sua copa é constituída por intensa ramagem e as folhas pubescentes – possuem pequenos pelos, de textura cartácea – fina e rígida, como a cartolina, acuminadas ou agudas – terminam em ponta ou cumpridas, caem geralmente no inverno – são caducas. A inflorescência é uma bela cimeira – cacho terminado em uma flor- congesta (acúmulo de floração em um ponto determinado), bracteada (formação nascida no lugar de uma folha, bráctea, originada para proteger as flores ou inflorescências em desenvolvimento), contendo até vinte flores amarelo esverdeadas com curto pedúnculo subséssil (cabinho que a sustenta ao caule, antecedendo a flor e, nesse caso, tendo a característica de ser extremamente curto). As suas pétalas são do tipo cuculadas (apresentam o apêndice alongado sob a base) e em formato de unha – flores unguiculadas. Comum em diversas formações florestais da América Central e da América do Sul, preferindo as áreas de floresta estacional semidecidual – áreas vegetais transitórias entre a zona úmida costeira e a zona do semiárido, conhecida também por mata seca ou mata mesófila, ocorrendo normalmente chuvas intensas seguidas por um longo período de estiagem.

Espécie pioneira

Nos tempos atuais quando a destruição do meio ambiente se tornou regra não exceção, espécies vegetais que resistem ao sol a pleno, apresentam rápido crescimento e, quando árvores,  folhagem que proporciona sombra para que outras espécies se estabeleçam são de extrema importância para que áreas degradadas tenham maiores condições de se recuperar. São as chamadas pioneiras, espécies que iniciam a colonização de uma área em uma primeira etapa de um processo de sucessão ecológica. A mutamba é uma importante espécie pioneira utilizada em processos de reflorestamento no cerrado, domínio que sofre todos os anos com as queimadas.

Curiosidade: De acordo com a cultura de cada localidade a mutamba pode ser chamada de mutambo, araticum-bravo, fruta-de-macaco, chico-magro, cabeça-de-negro, guazuma, guacima, ibixuna, pojó, guaxima, coração negro, embira, embiru, cimarrona, bolaina, atadijo, ajya, camacã, mucungo, pau-de-bicho, periquiteira entre tantos outros. No nome científico também ocorre uma diversa variação sinonímica entre elas Bubroma guazuma, Theobroma guazuma, Guazuma coriaceae, Guazuma inuira, Guazuma polybrota, Guazuma tomentosa, Guazuma utilis, Diuroglossum rufescens. Podem existir outras variações tanto em nomes comuns quanto em científicos, essa diversidade é observada com mais frequencia em espécies com uma ampla área de distribuição, como é o caso da mutamba.  



Usos

O termo mutamba vem de uma de nossas muitas línguas mãe, o tupi-guarani, e quer dizer “fruta seca”. Outras fontes (Origem da palavra)  dão conta de que venha do quimbundo mutamba -tamarineira – e seja uma possível referência ao pé de tamarindo (Tamarindus indica) quanto à aparência de ambos no período de frutificação.
Devido a sua vasta distribuição no Continente Americano a mutamba tem uma infinidade de usos principalmente na tradição popular. Na alimentação pode ser consumida in natura ou triturada e servida como paçoca doce, na forma de chás para o tratamento de diarreias, febres, crises asmáticas e problemas do fígado (embora não existam estudos avançados que corroborem esses benefícios). É utilizada também na fabricação de licor.

Uso capilar

A mutamba talvez seja mais conhecida pelo seu uso cosmético para diversas enfermidades do couro cabeludo. O óleo do fruto é um excelente hidratante capilar e poderoso combatente para os casos de caspa e seborreia.
Importante: É um erro achar que, por ser natural, um determinado tratamento não traz problemas para a saúde. Qualquer substância deve ser utilizada com cautela. No caso da mutamba uma superdosagem pode causar desconforto estomacal podendo ser ainda um problema para pessoas cardíacas. Assim, como com os medicamentos de farmácia, tenha cuidado com os medicamentos naturais. Tudo em excesso faz mal.



Curiosidade: O fruto da mutamba é do tipo capsular, loculicida – se abre por fendas longitudinais (no caso da mutamba sempre são contadas cinco fendas) – globoso, seco, deiscente – abre quando o fruto amadurece permitindo a dispersão das sementes, polispérmico – possui mais de uma semente (retirei 79 de um único fruto) e sua consistência é duro lenhosa. O epicarpo ou casca é do tipo espinhenta e dura. A espécie é uma dicotiledônea em que as sementes são de difícil germinação fora das condições ideais de quebra de dormência.

Copa de mutambeira sem as folhas e repleta de frutos

Veja também: Botânica

Saiba mais: Colecionando Frutas, Lista de espécies da flora do Brasil, Madspaulo, Plantas que curam, Worldwidescience, Frutos e Sementes, Bolsa de Mulher, Wikipedia. Aprenda mais no Facebook com  os grupos Identificação Botânica, DetWeb.

GMJP


2 thoughts on “Você conhece a mutamba?”

  • Unknown disse:
    setembro 5, 2015 às 5:24 pm

    Excelente postagem! Bastante informativa, e com curiosidades interessantes. Parabéns pelo trabalho. Nosso Cerrado realmente é de beleza e diversidade impressionantes.

    Responder
  • Geraldo M. Pereira disse:
    setembro 5, 2015 às 5:48 pm

    Obrigado, o cerrado é um domínio extraordinário e precisa ser mais bem conhecido.

    Responder

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Flora do Centro Mineiro Vol.1


Flora do Centro Mineiro Vol.2

Posts recentes


  • O fantasma do cânion
  • De Curvelo a Botumirim – em busca da rolinha-do-planalto
  • Micrastur semitorquatus (Vieillot, 1817) – uma família em Curvelo
  • Os nomes das famílias botânicas, por Gerdaff Lóra
  • Phylloscartes roquettei (Snethlage, 1928), uma raridade em Curvelo

Comentários


  • Geraldo M. Pereira em De Curvelo a Botumirim – em busca da rolinha-do-planalto
  • Geraldo M. Pereira em De Curvelo a Botumirim – em busca da rolinha-do-planalto
  • Geraldo M. Pereira em De Curvelo a Botumirim – em busca da rolinha-do-planalto
  • Fernanda Fernandex em De Curvelo a Botumirim – em busca da rolinha-do-planalto
  • Unknown em De Curvelo a Botumirim – em busca da rolinha-do-planalto

Arquivos


  • agosto 2018
  • abril 2018
  • dezembro 2017
  • setembro 2017
  • abril 2017
  • março 2017
  • janeiro 2017
  • dezembro 2016
  • novembro 2016
  • setembro 2016
  • agosto 2016
  • julho 2016
  • junho 2016
  • maio 2016
  • abril 2016
  • março 2016
  • fevereiro 2016
  • janeiro 2016
  • dezembro 2015
  • novembro 2015
  • outubro 2015
  • setembro 2015
  • agosto 2015
  • maio 2015

Categorias

Aves Botânica Espeleologia Expedição Insetos Meio ambiente Memória Opinião Táxons Uncategorized Visão dos amigos

Páginas

  • Contato
  • Flora do Centro Mineiro Vol.1
  • Flora do Centro Mineiro Vol.2

Tradutor

Categories

  • Aves
  • Botânica
  • Espeleologia
  • Expedição
  • Insetos
  • Meio ambiente
  • Memória
  • Opinião
  • Táxons
  • Uncategorized
  • Visão dos amigos

Theme created by PWT. Powered by WordPress.org