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Mosca Gigante em Curvelo


By Geraldo M. Pereira | setembro 17, 2015 | Category Insetos

“Você sentiu na pele a eficiência do mimetismo. Quase bicho nenhum se aventura a atacar essas moscas pelo medo que as vespas provocam.” 
Wagner Nogueira 

Classificação Científica
Reino:
Animalia
Filo: 
Arthropoda
Classe:
Insecta
Ordem:
Diptera
Subordem:
Brachycera
Infraordem:
Asilomorpha
Superfamília:
Asiloidea
Família:
Mydidae
E lá vai o observador, tranquilamente a procura da próxima maravilha escondida na beleza multicor do cerrado curvelano quando, de repente, pousa na sua frente a encarnação do perigo. O jeito de vasculhar pela ramagem, subindo vez por outra sobre os finos colmos, fixando os grandes olhos em possíveis pontos de predação, a agitação empolgante das asas, percorrendo curtos espaços em voo como que desejando fervorosamente a próxima refeição incauta. Sem titubear o observador recua, recolhe-se à sua insignificante covardia, rememorando táticas de sobrevivência colhidas no Manual de Segurança dos Observadores de Aves (pau pra toda obra quando o assunto é segurança no mato) misturado com as lembranças das histórias – que nesses momentos irremediavelmente vêem à memória como um exercício involuntário de anamnese – ouvidas sobre sertanejos que, picados por tamanha besta, se viram em lamentáveis condições febris, convulsivas, encalombados no local da dolorida picada seguindo-se uma terrível inflamação curada apenas por poderosos recursos hospitalares (exageros para tirar a gente da farra interiorana, as estripulias mateiras que boa parte da criançada de hoje não tem o privilégio de apreciar).
A curiosidade, porém, faz com que respire fundo e faça alguns registros fotográficos. É preciso ter sangue frio em um momento desses, ainda mais quando as únicas referências são memórias assustadoras de causos da roça. Bicho registrado, direita volver que o risco é de morte!

Chegando em casa o primeiro ato é postar nas redes sociais o grande feito de, não apenas ter registrado uma espécie incrível mas ter encarado o perigo, mostrar para todos o quão bravo deve ser o explorador das terras curvelanas! Cheio de si o observador mal se preocupa em pesquisar sobre a fera, desvendar os mistérios da espécie, a sua importância ecológica, etcetera e tal. Tolo, lembrando uns doutores por aí que andam arrancando cabeças de leões para mostrar como troféu, se esquecendo que não há maior laurel que o conhecimento (acho que muitos, em algum momento, principalmente quando na aquisição de experiência, passam inevitavelmente por esse momento egoísta, sem, contudo, querer arrancar cabeças, amostra da abominável anomalia do Homo sapiens de querer ser dono de tudo, mas demonstrar através da grandeza do ser a sua própria grandeza – quanta pequenez…).
A conexão lenta aumenta-lhe a tensão e, quando não, lá está, o grande prêmio exposto para o mundo! Agora é só esperar que todos venham admirar o seu feito!

Existem pessoas que mesmo sem conhecê-las pessoalmente nos passam a sensação de que nasceram com a sutileza de Atena embalando o berço – e armado de toda a argúcia do conhecimento o mestre Wagner Nogueira não jogou terra sobre o ânimo do observador, mas deu-lhe um impulso hercúleo arrebatando-lhe ainda mais para a apaixonante via da sapiência com o escólio que segue “Essa é uma das moscas que mimetizam vespas, por incrível que pareça, uma mosca inofensiva. Você sentiu na pele a eficiência do mimetismo. Quase bicho nenhum se aventura a atacar essas moscas pelo medo que as vespas provocam”.

Uma mosca!

“Pelo aparato bucal dá pra ter certeza que é mosca e não vespa.”,
Cavalo-do-cão Pepsis decorata. Moscas Mydidae mimetizam vespas como esta.
continua o mestre Wagner Nogueira, destilando sapiência em precisas colocações que aguçam.  Aqui um adendo: Wagner é especialista em aves, mas antes de tudo, pelo que demonstra nas suas aparições no WikiAves e nas redes sociais é, deveras, um apaixonado pela natureza,  porém conciso, direto, sempre disposto a trazer à luz o conhecimento a quem dele quer  sorver. 
Após tamanha atenção só restava uma coisa a ser feita pelo observador: pesquisar. 

Impressionante o que fazem essas moscas, elas realmente passam para quem as observa ou para o que procura devorá-las a sensação de perigo.  São animais que elevam o conceito de mimetismo ao extremo quase absoluto, fazendo surgir em quem os encontrar os velhos instintos de sobrevivência, a necessidade de recuo em prol da continuidade do ser – o que lhes proporciona garantias idênticas na eterna luta pela vida. Se Bates, em suas perambulações pelo paraíso tupiniquim, tivesse topado com um ícone desses! Posso imaginar o cintilar dos seus olhos, todo bem-fadado de si dizendo “aí está um exemplo do que lhe falei senhor Müller, vê a morfologia e até mesmo os trejeitos? Isso é o mimetismo batesiano meu caro, um ser vivo evoluído o suficiente para se passar por outro afim de se proteger das investidas dos predadores. Até mesmo eu sinto receio…”


Mydidae, uma família de gigantes


Mydidae é uma família de gigantes, proporcionalmente falando, com indivíduos podendo chegar a seis centímetros de comprimento de corpo e dez centímetros de envergadura. São espécies em sua maioria mimetizadoras de vespas do gênero Pepsis – os famosos marimbondos-caçadores ou cavalos-do-cão. Grande parte das espécies ocorrem em matas secas. Em sua fase de larva são predadores de imaturos de besouros (coleópteros) e formigas (himenópteros). Há pouco conhecimento sobre a natureza dos adultos, os machos visitam flores ocasionalmente e as fêmeas provavelmente não se alimentam. 

Discussão

Para se chegar a uma identificação confiável de espécies como essa é preciso um trabalho de especialista, coletando o animal e fazendo análises anatômicas criteriosas. Torna-se imprudente nesse caso apontar uma identificação, já que os elementos de análise são apenas dados fotográficos. No caso apresentado a análise da genitália seria o critério a se utilizar para uma identificação precisa, conforme discussão no Entomologia Brasileira, em que aprendemos com Julia Calhau Almeida e orientação do mestre César Crash no Insetologia. A hipótese mais provável é que esse seja um espécime da mosca Protomydas coerulescens. 

O mais importante é conscientizar de que, sendo mosca ou vespa, é vital deixar que o espécime siga o seu caminho em um eventual encontro (ao menos que a possível coleta seja exclusivamente feita por especialistas para fins de estudos). Todos os seres vivos têm a sua importância no meio em que estão inseridos e, se tivermos algum desequilíbrio como superpopulação ou ocorrência em áreas urbanas com absoluta certeza a culpa não é do animal em questão. Encontrar animais como esse em nossa região evidencia claramente a privilegiada natureza que temos em Curvelo e a necessidade de se manter intocadas preciosas áreas de cerrado, tão peculiares em abundância e diversidade.


Agradecimentos: Obrigado Wagner Nogueira, César Crash, Julia Calhau Almeida e a todos que se esforçam por fazer com que o conhecimento circule, se expanda e  ganhe forma aguçando cada vez mais os curiosos.

Veja também: Insetos e aracnídeos

Saiba mais: Insetos do Brasil, Wikimedia, Insetologia, Infoescola, Ciência a Bessa, NetNature. Procure no Facebook pelo grupo Entomologia Brasileira, Ópera Mundi.

GMJP



6 thoughts on “Mosca Gigante em Curvelo”

  • Celso de Castro disse:
    setembro 17, 2015 às 11:56 pm

    Impressionante – Parabéns, Geraldo!

    Responder
  • Geraldo M. Pereira disse:
    setembro 18, 2015 às 12:03 am

    Obrigado.

    Responder
  • SouthSkywatcher disse:
    dezembro 18, 2015 às 10:22 pm

    Parabéns!! Emocionante seu relato e são lindas as fotos da mosca! Impressionante!!

    Responder
  • Geraldo M. Pereira disse:
    dezembro 18, 2015 às 10:34 pm

    Obrigado, esse bicho é surpreendente, nesse dia eu senti medo pois são muito comuns aqui na minha região as vespas cavalo-do-cão ( e elas são muito temidas). Fica o convite para visitar as demais postagens do blogue: http://curvelofaunaeflora.blogspot.com.br/

    Responder
  • Celso do Lago Paiva disse:
    fevereiro 10, 2020 às 8:04 pm

    Ótimo texto, Geraldo!
    A maior mosca do mundo é brasileira, Gauromydas heros (Perty, 1833), da mesma família da mosca acima, Mydidae.
    Como não-especialista, não me atrevo nem a sugerir nome para a mosca gigante que observou e fotografou. Mydidae e pronto.
    Há poucos meses tive a sorte de coletar uma dessas, enorme, que morreu ao não conseguir sair completamente do chão. Tinha por volta de 40mm de comprimento.
    Obrigado por nos brindar com suas observações da natureza!
    Só de olhar se percebe serem moscas. A semelhança com vespas é superficial.

    Celso

    Celso do Lago Paiva
    Curvelo, Minas Gerais, Brasil
    https://www.researchgate.net/profile/Celso_Lago-Paiva/research
    .

    Responder
  • Geraldo M. Pereira disse:
    fevereiro 21, 2020 às 7:39 pm

    Obrigado Celso.

    Responder

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