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Em Curvelo tem – Dilleniaceae


By Geraldo M. Pereira | novembro 19, 2015 | Category Botânica, Táxons

Dilleniaceae é uma família de plantas em que as espécies têm importante representatividade nas diferentes apresentações do domínio cerrado. Em quase todos os ambientes florestais do bioma são encontrados exemplares da família, ora cipós ascendendo sobre o extrato vegetal, ora arbustos esgalhados se oferecendo para os raios do dia, ora imponentes árvores abrigando e alimentando as aves em fausto. Pioneiras após o fogo espalhar a sua devassa – diz o sertanejo “na calorio do fogo findo já se vê rebrotar a sambaíba”, oferecendo assim o vigor da vida a quem enxerga ao redor apenas o desastre. No uso popular prestam-se alguns de seus membros ao combate a afecções do corpo. As Dilleniaceaes estão enraizadas não apenas no solo de nossa preciosa savana como também em nosso dia a dia, em nossos caminhos, na história de quem perambula pelos sertões do Brasil central em busca da fartura dos seus encantos.

Vamos saber um pouco mais sobre essa importante família e respeitá-la assim como ao imponente e muitas vezes incompreendido cerrado.
 Só respeita quem conhece.


Dilleniaceae

Família encontrada em regiões de clima tropical e subtropical, compreendendo os gêneros Acrotema, Curatella, Davilla, Didesmandra, Dillenia, Doliocarpus, Hibbertia, Pachynema, Pinzona, Schumacheria e Tetracera, sendo que no Brasil já foram descritos 5 gêneros e algo em torno de 40 espécies. Em Curvelo foram encontradas até agora espécies dos gêneros Curetalla – C. americana, Davilla – D. elliptica e D. rugosa e Doliocarpus – D. dentatus. São ao todo 310 espécies para a família, número que tende a variar conforme surgem novos estudos. Única família da ordem Dilleniales. Compreende espécies de hábitos arbustivos, subarbustivos eretos ou escandentes (que se apóiam em um determinado suporte para subir), lianas e árvores, de pequeno, grande e médio porte, encontradas em ambientes de savana, áreas úmidas ou estacionais. Folhas alternadas inteiras, peninérveas – em forma de pena, em que de uma nervura central saem outras nervuras responsáveis pela passagem dos nutrientes e estruturação das folhas, servindo como uma forma de esqueleto – não apresentando estípulas. Uma característica interessante é a geral aspereza das folhas devido à sílica em células epidérmicas presentes em suas estruturas. Essa característica evita a perda de água e colabora para a sua manutenção, já que no Brasil as espécies ocorrem geralmente em domínios de cerrado e caatinga, em que são comuns períodos longos de estiagem intercalados a curtos períodos chuvosos.

Por que Dilleniaceae?

 Johann Jacob Dillen (Dillenius) foi um botânico alemão nascido em Darmstadt no ano de 1684. Desenvolveu importantes estudos descrevendo inúmeras novas espécies principalmente de musgos e cogumelos. Trabalhou a convite de William Sherard na coleção de plantas deste, o que o levou para a Inglaterra e a empreender excursões científicas pelo interior inglês e também no País de Gales. Ao falecer em 1728 Dillenius deixou para a Universidade de Oxford uma grande soma em dinheiro além das suas substanciais coleções de livros e plantas.
Linnaeus dedicou-lhe a sua Crítica Botânica e nomeou o gênero Dillenia em sua homenagem.

Ao descrever uma nova família de plantas o botânico britânico Richard Anthony Salisbury  não teve dúvidas em nomeá-la “Dilleniacea“, homenageando assim o grandioso colega alemão que tanto contribuiu para o conhecimento da fitologia.

Curiosidade: Quando analisamos a classificação científica de um ser vivo geralmente vemos uma abreviatura no final do binômio, essa abreviatura identifica o autor da descrição daquela espécie. Portanto, se você se deparar com a abreviatura “Dill.” saiba que o responsável por aquela descrição foi o aqui homenageado Dillenius.

 

Espécies da família Dilleniaceae encontradas em Curvelo

  •  Doliocarpus dentatus – Cipo-vermelho, muiraqueteca

    Espécie que se distribui pelos domínios da mata atlântica, cerrado e menos difundida no amazônico, não sendo encontrada com regularidade em nenhum desses ambientes. Apresenta-se comumente como uma trepadeira e mais raramente como um arbusto escandente podendo chegar a doze metros de altura. Quando jovem apresenta ramos cobertos de “pelos” curtos – pubescência – perdendo-os quando maduros – os ramos tornam-se glabros.

    Classificação Científica
    Reino:
    Plantae
    Divisão: 
    Magnoliophyta
    Classe:
    Magnoliopsida
    Ordem:
    Dilleniales
    Família
    Dilleniaceae
    Gênero:
    Doliocarpus
    Espécie:

    D. dentatus

    Nome Binominal:

    Doliocarpus dentatus (Aubl.) Standl.

     O cipó contorcido e de casca ligeiramente avermelhada avança sobre os suportes com suas folhas alternas em forma de lança acuminada – lanceoladas – cartáceas – com a textura de cartolina – semiserreadas em sua metade superior. Surgem de 10 a 30 flores brancas com pétalas decíduas – que caem – belamente arranjadas em fascículos nos ramos sem folhas. Os frutos vermelhos se abrem quando sazonados deixando amostra as duas sementes enegrecidas envoltas no doce arilo (polpa) disputado por uma enorme variedade de aves.

    Curiosidade: Ao ser cortado em pedaços o cipó produz água potável, conhecer esse potencial é importante para pessoas que costumam se aventurar nas matas. Segundo a tradição, a água obtida tem ação diurética e anti-inflamatória.





    Chamado também de cipó-de-fogo, a bela liana floresce entre os meses de setembro a novembro e tem potencial para ser utilizada na ornamentação, cobrindo áreas como alpendres ou quiosques. A maior ameça para a sua manutenção é a destruição de sue habitat – o exemplar aqui registrado foi muito danificado em um incêndio criminoso ocorrido no final de mês de setembro de 2015. A área está se recuperando e a planta, demonstrando todo o seu vigor e adaptabilidade, está em franco processo de recuperação.



    • Davilla elliptica – Lixeirinha, sambaibinha

      Belo arbusto ou arvoreta parte importante da flora representativa do domínio cerrado, geralmente encontrada em bordas de mata ou em mata de galeria. Possui intensa ramificação, folhas alternadas – apresenta apenas uma folha por nó – pecioladas – que contém pecíolo, aquele cabinho que liga a folha ao caule – não apresentando estípulas – estruturas escamadas encontradas no caule próximo a bainha das folhas nas plantas vasculares  – oblongas – estrutura na forma oval ou elíptica – ásperas na face superior e pubescente – apresenta pequenos pelos – na face inferior. Pecíolo medindo em torno de 1 a 1,5 cm de comprimento canaliculado – que apresenta sulcos ou ranhuras, estrias.

      Classificação Científica
      Reino:
      Plantae
      Divisão:  
      Magnoliophyta
      Classe:
      Magnoliopsida
      Ordem:
      Dilleniales
      Família:
      Dilleniaceae
      Gênero:
      Davilla
      Espécie:

      D. elliptica

      Nome Binominal:

      Davilla elliptica A. St.-Hil.

      Espécie com quantidade elevada de sílica (Si) – 5,2% nas folhas secas – conforme Pinheiro Filho (1999) citado em A importância do silício nas relações entre herbívoros e D. elliptica, de Ana Paula Korndörfer. Flores com cerca de 3 cm de diâmetro,compostas de dois estiletes resultando geralmente em duas sementes no fruto tipo cápsula. As flores surgem após a abertura de dois hemisférios na base inferior comumente pela manhã e perdem as pétalas ao longo dos dias – os hemisférios então se fecham aprisionando os estames e estiletes. 




        
      É utilizada na medicina popular como antiinflamatório e contra úlceras. Estudos indicam importante concentração de flavonóides.

      Nota pessoal: quando criança costumava brincar com as sementes tentando abri-las, obtendo sucesso presenteava as meninas dizendo que aquilo eram “brincos de princesa”. Obviamente elas não gostavam e o meu intento se via totalmente frustrado.


      • Davilla rugosa – Lixeirinha, cipó-caboclo, cipó-carijó
      Muito confundida com D elliptca – inclusive utilizada para os mesmos fins fitoterápicos – D rugosa é o popularmente conhecido cipó-caboclo. Diferencia-se de D. elliptica pelo seu hábito – trata-se de uma trepadeira (liana) lenhosa comum na beira de mata.

      Classificação Científica
      Reino:
      Plantae
      Divisão: 
      Magnoliophyta
      Classe:
      Magnoliopsida
      Ordem:
      Dilleniales
      Família:
      Dilleniaceae
      Gênero:
      Davilla
      Espécie:
      D. rugosa
      Nome Binominal:

      Davilla rugosa Poiret.

      Surge nas formações pioneiras entrelaçando-se entre os galhos alcançando muitas vezes nessas o estrato superior. Folhas alternadas – apresenta apenas uma folha por nó -,  pecioladas – que apresentam o pecíolo, aquele cabinho que liga a folha ao caule, proeminente – não expondo estípulas – estruturas escamadas encontradas no caule próximo a bainha das folhas nas plantas vasculares – oblongas – estrutura na forma oval ou elíptica – ásperas em ambas as faces com as margens elevadamente serreadas. Pecíolo medindo em torno de um a um centímetro e meio de comprimento canaliculado –  que apresenta sulcos ou ranhuras, estrias. Assuas Flores são de uma tonalidade amarelo pálido.


      Devido a semelhança é empregado na medicina popular da mesma forma que  D. elliptica – , além de depurativo, estimulante e afrodisíaco. Na tradição umbanda é usada em banhos de descarrego e defumação de ambientes.


      • Curatella americana – Lixeira, sambaíba
      A lixeira é talvez o maior exemplo de força diante do fogo – praga terrível que devassa a nossa tão fragilizada savana. Logo após as chamas dissiparem as primeiras folhas verdinhas brotam desafiando a fuligem ainda impregnada em seu caule e extremidades. Essa robustez diante tamanha ameaça se deve a estrutura do córtex – estrutura externa da casca, espessa, composta por células mortas – grosso, disposto em camadas sobrepostas. Essa característica serve como uma proteção para os níveis mais profundos onde estão os vasos condutores de seiva, garantindo que a árvore assim não venha a perecer diante a agressividade das chamas. 

      Classificação Científica
      Reino:
      Plantae
      Divisão: 
      Magnoliophyta
      Classe:
      Magnoliopsida
      Ordem:
      Dilleniales
      Família:
      Dilleniaceae
      Gênero:
      Curatella
      Espécie:

      C.americana

      Nome Binominal:

      Curatella americana L. (1759)

      Arvoreta ou árvore podendo chegar a oito metros de altura, C. americana possui caule e galhos tortuosos, característica comum às espécies do domínio cerrado. As suas folhas são simples alternadas apresentando pecíolo curto, de aspecto cartáceo – consistência como a da cartolina – muito ásperas principalmente na base superior ventral devido à presença de cristais de sílica. A sua parte principal – limbo – possui de 6 a 23 por 3,5 a 12 cm aproximadamente, variando entre oval e oblongo, margens ligeiramente serreadas, nervuras secundárias e terciárias proeminentes na face dorsal. As suas flores são pediceladas – contém pedicelo, haste responsável pela sustentação da flor e do fruto, o “cabinho” – tendo o seu caule entre quatro a cinco sépalas imbricadas – estruturas das flores responsáveis normalmente pela proteção do botão floral, encontradas na junção com o caule, ponto onde se formam demais estruturas básicas da inflorescência chamado de verticilo ou nó – em dois andares; a corola é amarela com quatro pétalas caducas. O fruto é uma cápsula sincárpica – fruto oriundo do ovário ínfero (abaixo do receptáculo), septicida – referente à deiscência (abertura natural) do fruto entre as duas folhas do septo (membrana que separa duas câmeras nos frutos e flores); valvas – nos frutos deiscentes é a estrutura que os separa do pericarpo (estrutura do próprio fruto excluindo-se a semente, composto pelo epicarpo (camada mais externa do fruto, a casca), mesocarpo (camada mediana do fruto, a polpa) e o endocarpo (camada mais interna que se encontra diretamente em contato com a semente)) de tonalidade cinza em seu exterior e interior avermelhado, contendo de três a cinco sementes largo-elipsóides – na forma de uma elipse longa – envoltas em arilo branco e carnoso. 

      Encontrada comumente em ambientes tropicais de baixa altitude suportando temperaturas elevadas e baixo índice de pluviosidade. A espécie tem distribuição variada, encontrando-se diversos exemplares em um mesmo local enquanto que em outros pode ser rara ou sequer constar como componente da cobertura arbórea. Floresce nos meses de agosto a setembro e entre setembro e dezembro os seus frutos são dispersos por aves frugívoras.
      Veja abaixo o episódio do Um pé de quê sobre a lixeira e a consequência que o ateio indiscriminado do fogo pode causar ao meio ambiente:

      Curiosidade: as folhas da C. americana possuem uma substância chamada diclorometanólico que tem importante potencial como herbicida. Saiba mais nesse artigo.

      Veja também: Botânica

      Saiba mais: Novidades taxonômicas para Dilleniaceae brasileiras, Estudo farmacognóstico comparativo das folhas de Davilla elliptica A. St.-Hil. e D. rugosa Poir., Dilleniaceae, Wikipedia, Estudo fitoquímico de Davilla Kunthii A. ST. – Hil. (Dilleniaceae), Caracterização quali e quantitativa de metabólitos secundários em extratos vegetais, Escola Kids, A importância do silício nas relações entre herbívoros e D. elliptica, Flora de Santa Catarina,Colecionando Frutas, Morfologia da Curatella americana L. na Universidade Federaldo Amapá, Um pé de que, Avaliação Alelopática e Caracterização Fitoquímica do Extrato em Diclorometano de Folhas de C. americana L. (Lixeira).

      GMJP


      2 thoughts on “Em Curvelo tem – Dilleniaceae”

      • Anônimo disse:
        novembro 20, 2015 às 11:44 am

        Muito bom, Geraldo!
        Parabéns pela divulgação da flora de nossa cidade!
        Celso
        Celso do Lago Paiva
        Curvelo MG

        Responder
      • Geraldo M. Pereira disse:
        novembro 21, 2015 às 4:13 pm

        Obrigado Celso, temos que mostrar a beleza de nossa flora, não existe mato, exite um organismo que pulsa.

        Responder

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