Ameiva ameiva, o belo calango verde em Curvelo
O calango verde é uma daquelas espécies com as quais nos habituamos a encontrar sempre que saímos a campo em nossas observações. Assusta, é verdade, principalmente quando incautos somos surpreendidos com o seu movimento repentino, fato que elucida um dos nomes pelos quais é conhecido: jacarepinima – que em tupi-guarani quer dizer “jacaré pintado”, o “pintado” pela coloração e o “jacaré” pelo visual e modos cheios de inesperados rompantes. Repente desses, um corre corre verde e esguio no meio da vegetação. Logo nos enchemos do medo ancestral que invade cada um de nossos poros, imaginando a mais peçonhenta das mais peçonhentas das serpentes pronta para nos lembrar quem é a dona do pedaço. Quando percebemos o languido ameiva nos olhando entre as ramagens como que dizendo “enganei o bobo” o temor se dissipa e somos tomados de alívio ao perceber que o simpático lagarto só quer seguir o seu forrageio – ou seria mesmo traquinagem?
Vamos conhecer um pouco mais sobre esse importante lagarto que é um dos primeiros habitantes das áreas degradadas pela incompreensão humana.
Conhecendo o calango verde
Classificação Científica | |
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Reino:
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Animalia
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Filo:
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Chordata
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Classe:
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Sauropsida
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Ordem:
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Squamata
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Subordem
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Lacertilia
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Família:
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Teiidae
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Gênero:
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Ameiva
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Espécie:
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A. ameiva
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Nome Binominal:
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Ameiva ameiva
(Linnaeus, 1758)
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Bico doce, calango verde, jacarepinima são alguns dos nomes pelos quais é conhecido o Ameiva ameiva, lagarto com ampla distribuição nos diversos ecossistemas brasileiros e excelente adaptabilidade a áreas que ocorreram ação antrópica. Mede cerca de 55 centímetros de comprimento, vivendo de 5 a 10 anos. Lagarto de hábitos diurnos e essencialmente terrícola. Como animal de sangue frio passa boa parte do dia se aquecendo ao sol. Pertence ao reino Animalia, filo Chordata (animais que apresentam notocorda, tubo nervoso dorsal, entre outras características), classe Sauropsida, ordem Squamata (ordem dos lagartos e serpentes, têm como característica básica o corpo inteiramente coberto de escamas), subordem Lacertilia (uma das três subdivisões da ordem Squamata, onde se incluem os lacertílios ou sáurios, os conhecidos lagartos. As outras subordens são amphisbaenídeos e ofídios ou serpentes.), família Teiidae (família de lagartos geralmente grandes, de hábito diurno e que desempenham intensa atividade na área em que ocorrem. A família é restrita a região neotropical e conta com cerca de 10 gêneros 110 e espécies. ), e ao gênero Ameiva.
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Cobra-coral-falsa” (Oxyrhopus cf. trigeminus, família Colubridae) predando A. ameiva Foto: Celso Lago-Paiva, 11 mar. 2011, Jaboticatubas MG. |
Ameiva ameiva é uma espécie eurióica ou generalista, ou seja, apresenta pouca exigência quanto ao seu hábito alimentar – estando apta a comer desde pequenos invertebrados e insetos, a frutos, ovos, etc., que procura através de forrageio, sendo uma espécie extremamente adaptada a esse tipo de procura de alimentos. tendo inclusive a anatomia de sua língua preparada para esse tipo de caça – e ao nicho ecológico de modo geral, característica essa que é uma das principais responsáveis pela sua imensa dispersão territorial.
Tamanha plasticidade ecológica coloca a espécie em evidencia nos ecossistemas e nas conformidades paisagísticas em que se encontra como importante regulador populacional, quanto ao seu caráter predatório, quanto como presa de diversas outras espécies que com A. ameiva coabitam. Espécies generalistas, quando naturais do habitat em que vivem, desempenham um importante papel no controle de outras espécies bem como na conservação do meio ambiente ao retirar restos de frutas ou outros animais.
Apresenta interação interespecífica de caráter agonístico com espécies do gênero Tropidurus (família Tropiduridae) com as quais é simpátrica. Essa interação evidencia-se em demonstrações de parte a parte quanto a defesa territorial e obtenção de recursos, verificando diversas formas de linguagem corporal como expressões faciais de agressividade, display de submissão ou blefe, além de perseguições ou fugas, podendo haver eventualmente atos de predação. É uma espécie inofensiva para o ser humano, preferindo fugir ou se camuflar na vegetação rasteira que demonstrar agressividade, contudo, é vítima assim como tantas formas de vida da falta de informação que as pessoas apresentam em relação ao real conhecimento da natureza que as rodeia.
Não foi possível determinar com exatidão a origem do nome ameiva. No livro Dicionário dos Animais do Brasil Rodolpho von Ihering nos dá uma pista:
“Ameiva …parece ser uma corruptela de amêjua…(amêjua = nome vulgar de vários lacertílios da Amazônia).”
Fora isso, apenas uma nota de rodapé que deixa mais dúvidas que esclarecimentos na página 27 da obra Le Règne Animal Distribué D’après son Organisation -Tome II de Curvier.
Ameiva ameiva, um tautônimo
Nomes científicos como o do lagarto verde, em que os dois termos da estrutura binominal são iguais (Ameiva ameiva) são denominados tautônimos. Essa forma de nomenclatura é bastante difundida na classificação dos seres vivos do reino Animalia, mas pouco usual e mesmo evitada na classificação das espécies botânicas (reino Plantae ou Metaphyta). No artigo Panorama histórico da classificação dos seres vivos e os grandes grupos dentro da proposta atual de classificação (Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes Fanly Fungyi Chow Ho), saiba mais sobre a origem e a importância da nomenclatura binária para a organização e entendimento dos seres vivos, partindo de um mundo de conceitos abstratos e enorme diversidade de nomes, confuso e errôneo, para uma realidade sóbria, organizada, excluindo os elementos do achismo e do fantasioso. Vale salientar que o ou os nomes comuns, populares ou vulgares têm sim a sua validade como identidade para os seres vivos, trazendo um caráter cultural muitas vezes intrinsecamente enraizado, mas estão sujeitos a erros de interpretação e regionalismos. Assim, podemos ter uma longa e acalorada discussão sobre se o nosso lagartinho verde é o bico doce ou jacarepinima (eu prefiro bico doce), sendo esmiuçados e defendidos por audazes mordidas diversos pontos de vista e inclusive conceitos de identidade local – como já vi acontecer não raras vezes – mas temos que ter a tranquilidade racional de entender que estamos diversificando sobre o ser vivo Ameiva ameiva que, como consta, tem como autoridade descritiva Carl von Linnaeus. Remédio para muitos amargo, a nomenclatura binária é necessária e vital para o conhecimento sobre as milhões de formas de seres vivos que habitam a terra. Como diz a lenda: “jacarepinima quando morde só larga depois de uma trovoada”. Assim, é conveniente que para o bom entendimento que se utilize a nomenclatura binária – e agradeça a Linnaeus por ter alicerçado as bases desse grandioso e indispensável conhecimento.
Ameiva ameiva em Curvelo
Em Curvelo, como é de sua característica adaptativa, Ameiva ameiva é encontrado em diversas conformações ambientais, naturais ou antropomorfizadas. Há, porém, uma disparidade em relação ao quantitativo populacional quando comparado às espécies do gênero Tropidurus, os populares calangos, espécies com as quais compartilha o mesmo habitat (são espécies simpátricas) e que apresentam maior adaptação para o convívio com o ser humano, utilizando inclusive dos mesmos espaços como abrigo e morada. O lagarto verde é por vezes confundido com as serpentes que com ele assemelham-se em coloração, mal-entendido que se desfaz tão logo começa e forragear e mostrar não só total inverossimilhança física (salvo laivos de ancestralidade) como um peculiar comportamento que o faz distinguir entre as demais espécies do seu meio. É um lagarto que desperta tranquilidade – quando observa estátua os arredores – e surpresa – quando tomado de assalto apronta correria desvairada no meio da vegetação do estrato baixo das matas, capoeiras e quadras desfiguradas.
Agradecimentos: Walter Miguel Kranz, Tercio Luís Barroso de Paula e aos amigos e amigas do Café.
Celso Lago Paiva, pelo registro da Oxyrhopus cf. trigeminus, família Colubridae predando A. ameiva. Embora não tenha sido em terras curvelanas tem enorme importância para ilustrar a interação entre as espécies no meio ambiente.
Saiba mais: The Reptile Database, Biblioteca digital USP, Plano de Manejo da APA de Conceição da Barra – Volume 2, XIII Congresso brasileiro de zoologia, Estudos evolutivos em espécies de Lartílios brasileiros da família Teiidae (Squamata), com base em dados citogenéticos e moleculares, Helmintofauna associada a répteis provenientes da Reserva Particular do Patrimônio Natural Foz do Rio Aguapeí, Estado de São Paulo – Lidiane Ap. F. da Silva, Biota Neotropica – Fapesp, Herpetofauna vol 2 Répteis, Efeito da fragmentação dos hábitats sobre a diversidade e a abundância de endoparasitas de lagartos no Cerrado – Rebecca Martins Cardoso, Ecologia e Conservação da Caatinga – Inara R. Leal, Marcelo Tabarelli, José Maria Cardoso da Silva, Diversidade de lagartos do Brasil, Répteis do Estado de São Paulo: conhecimento atual e perspectivas – Hussam Zaher, Fausto Erritto Barbo, Paola Sanchez Martínez, Cristiano Nogueira, Miguel Trefaut Rodrigues, Ricardo Jannini Sawaya, Ecologia de Ameiva ameiva (Sauria, Teiidae) na Restinga de Guriri, São Mateus, Espirito Santo, sudeste do Brasil – Tâmara F. Silva, Bethania F. E. de Andrade, Rogério L.Teixeira, Marcos Giovanelli, Terra da Gente – Fauna: Ameiva (Ameiva ameiva), Le Règne Animal Distribué D’après son Organisation -Tome II, Identificação de Lacertilia do Brasil com base n amorfologia de escamas – Marcos Tarcísio de Carvalho, Lagartos e serpentes (Lepidosaurria, Squamata) do mioceno médio-superior da região norte da América do Sul – Annie Schmaltz Hsiou, O meio ambiente e a ação antrópica: uma abordagem holística para a educação ambiental. – Stela Maris de Oliveira Martins Guimarães, Panorama histórico da classificação dos seres vivos e os grandes grupos dentro da proposta atual de classificação – Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes, Fanly Fungyi Chow Ho, Wikipedia, Carl Von Linné (1707-1778), o patrono da nomenclatura binária dos seres vivos – Hitoshi Nomura
Olá sou de Feira de Santana Bahia.
Preciso saber se a Ameiva o Calango Verde sobe em parde.escala alturas. E se as fezes dele fede muito e se é maior que uma bosta de largatixa.
Apariceu uma Ameiva já tem uma semana. Mas fui tentar evitar que o gato fosse comer ela. O calango sumiu em casa. Ficou afoito no momento do corre. Fechei o olho com medo.
Minha mãe é de idade ela não pode ficar com medo.
Ele canta emite algum som?
Grato minha gente.
Boa noite Josean. Não se preocupe, o ameiva é inofensivo para humanos e não traz nenhum risco. Como você tem gato em casa dificilmente o ameiva ficará no local.