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Em Curvelo tem – Isostigma peucedanifolium (Spreng.) Less. var. strictum


By Geraldo M. Pereira | novembro 2, 2016 | Category Botânica

O que move o observador? Muitas vezes uma única espécie é o motivo para uma centena de outras descobertas. Todo aquele que se dedica a observar a natureza sempre guarda um desejo intrínseco, ou ver ou rever uma forma de vida em especial. Deve saber, contudo, que é preciso ter a sabedoria de aguardar o tempo que a natureza lhe impõe – que é o tempo certo. E mais uma vez também, do dito saibro “paupérrimo” do Brasil Central, saber que logo, sempre, em algum cantinho por alguma fresta de pedir água, rebenta outra beleza sem par, inefável, envolta em toda uma singularidade. Pode passar despercebida entre a multidão de gramíneas que a cerca até que chega a sua vez de irradiar nos campos ditos sujos inebriante, irradiando o seu profundo enrubescido – e fazer do observador novamente um infante ao sentir o seu suave perfume… não há literacia para compreender o que representa meses de procura até o esperado reencontro. Observar novamente o enrubescido esplendoroso, o suave perfume de uma pequena estrela vermelha – tão especial. E você, o que move o seu instinto de observador?
Vamos conhecer um pouco mais sobre a Isostigma peucedanifolium (Spreng.) Less. var. strictum, que faço vênias ao me permitirem chamá-la o cravo-lindo-do-cerrado.


Conhecendo a Isostigma peucedanifolium (Spreng.) Less. var. strictum

Classificação Científica
Reino:
Plantae
Divisão: 
Magnoliophyta
Classe:
Magnoliopsida
Ordem:
Asterales
Família:
Asteraceae
Subfamília:
Asteroideae
Supertribo:
Helianthodae
Tribo:
Coreopsidae
Gênero
Isostigma

Espécie:
Isostigma 
peucedanifolium 

(Spreng.) Less. var. 
strictum Guad.Peter

Sinônimo
Tragoceras peucedanifolium Spreng.

Isostigma (menos comumente denominado Tragoceras) é um gênero neotropical  de plantas herbáceas eretas pertencente a família Asteraceae ou Compositae, subfamília Asteroideae, supertribo Helianthodae, tribo Coreopsideae que ocorrem em áreas rochosas, savanas neotropicais, solos arenosos ou argilosos, pastagens e habitats que passaram recentemente por queimada. Algumas espécies apresentam  xilopódio, tubérculo lenhoso cuja função é armazenar nutrientes e água nos períodos de seca, possibilitando dessa forma o rebrotamento quando as condições do ambiente se tornam mais favoráveis. Trata-se de um gênero até então restrito para a América do Sul e naturalmente raro mesmo nas fitofisionomias mais propícias onde as onze* espécies reconhecidas ocorrem. Possui dois subgêneros: Isostigma Less. e Microtrichon Guad. Peter. Espécies foram registradas no Brasil, Argentina, Paraguai Bolívia e Uruguai.
São considerados quatro taxa como variedades de Isostigma peucedanifolium (Spreng.) Less.: Isostigma peucedanifolium var. crithmifolium (Less.) Guad. Peter, Isostigma peucedanifolium var. speciosum (Less.) Guad. Peter e Isostigma simplicifolium var. riedelii (Baker) Guad. Peter. , além de  Isostigma peucedanifolium var. strictum Guad.Peter de que aqui tratamos.
Em Guadalupe Peter consta que:

“…quatro taxa são considerados variedades porque eles têm distribuição contínua que mostra integração perto de zonas de simpatria.” 

De um modo geral as espécies do gênero são conhecidas pela denominação comum  cravo-do-campo ou saudades-do-campo. Na Argentina clavel del campo.


Os registros feitos do espécime encontrado foram comparados com importantes bancos de dados online como o do Reflora confrontando com o registro das exsicatas ali catalogadas. Contatos foram feitos com os estudiosos Guadalupe Peter** e Volker Bittrich*** através de emails em que os dados foram enviados a eles para análise. Volker Bittrich, sendo especialista em Cluisiceae, gentilmente reencaminhou as informações para Jimi Nakajima****, que confirmou ser a planta um espécime de Isostigma peucedanifolium (Spreng.) Less.
Guadalupe Peter, por sua vez, e não menos disponível e gentil, informou que “I think it is Isostigma peucedanifolium var. strictum because of the discoid capitula.” (Eu acho que seja Isostigma peucedanifolium var. strictum devido aos capítulos discoides). Dessa forma, balizado nas informações coletadas em campo e disponibilizadas aqui em registro fotográfico, no que foi confrontado com os registros de exsicata disponíveis on line e nas trocas de emails com autoridades em botânica podemos afirmar que a espécie encontrada em Curvelo, Minas Gerais, Brasil trata-de de  I. peucedanifolium var. strictum.

Isostigma peucedanifolium var. strictum apresenta folhas lineares, filiformes, inteiras, trifurcadas, caule simples cespitoso (em que as novas estruturas são lançadas de modo aglomerado formando touceiras). A base apresenta feitio lenhoso; as flores são capituladas, em que os capítulos ou pseudantos são discoides – característica particular da variedade strictum, apresentando corola ligulada (cuja simetria é bilateral ou zigomórfica), brácteas involucrais unisseriadas em numero menor que dez. Páleas não escariosas, lineares; anteras obtusas; androceu isostêmone (apresenta numero de estames igual ao numero de pétalas). Todo o conjunto floral apresenta uma intensa coloração avermelhada.  O pedúnculo é uma longa haste que assim como as demais estruturas parte de modo cespitoso. Os frutos são cipselados, secos, indeiscentes – não se abrem naturalmente.
Não foi possível definir com clareza a origem do termo Isostigma. Iso = do grego, significa igual; stygma= ou pode ser originado de stygma: do grego, significa mancha, marca; ou uma referência ao estigma, que na espécie aqui descrita apresenta-se em número igual ao número de pétalas. Uma hipótese é que se trate de uma referência à forma como o pólen apresenta-se preenchendo os estames, formando uma mancha ou marca igualmente preenchida em todas as estruturas em que se encontram.

De acordo com o The Names of Plants – David Gledhill (Cambrige):

“Peucedanum deriva de peukedanon, utilizado por Theophrastus para designar o feno de porco (Peucedanum officinale). Gilbert Carter sugere que deriva de peukh, a resina produzida a partir de algumas espécies de pinheiro. – peukedanoj = amarga, destrutiva.”

Podemos confabular que o porque desse termo para compor o nome binário da espécie do gênero Isostigma aqui descrita, seja a aparência das folhas com as da P. officinale, o funcho-de-porco. Assim Peucedanifoluim seria, em livre transliteração, “folhas como as do Peucedanium officinale”.
Dessa forma o nome binário Isostigma peucedanifolium pode ser livremente transliterado como  “(planta) em que o (pólen) apresenta-se preenchendo os estames, formando uma mancha ou marca que ocorre igualmente em todas as estruturas em que se encontram e cujas folhas são como as do Peucedanium officinale” ou “(planta) que apresenta numero igual de estames cujas folhas são como as do Peucedanium officinale” .
Uma observação importante a se fazer nesse sentido é que os estudiosos que desbravaram as Américas nas diversas campanhas de pesquisa ou se debruçaram sobre os exemplares enviados para a Europa tinham como referência as espécies deles lá conhecidas, por isso nesse e em muitos outros casos o nome científico remeter-se a um outro taxa que em muitas vezes nada tem em comum com a espécie descrita.

O gênero Isostigma foi primeiramente descrito pelo botânico alemão Christian Friedrich Lessing no ano de 1831. Anteriormente, em 1826, o também botânico alemão Kurt Sprengel (Curt Polycarp Joachim Sprengel) já havia descrito no gênero Tragoceras a espécie T. peucedanifolium através de estudos baseados em material oriundo do Rio Grande do Sul, Brasil. Lessing, por sua vez, incluiu a espécie no gênero Isostigma e passa
ou a denominá-la I. peucedanifolium. Por esse motivo a sua nomenclatura binária é escrita com a abreviatura padrão dos dois autores: Spreng., para indicar a primeira autoridade que a descreveu e Lessing. para indicar a autoridade reconhecida atualmente.
Em homenagem a Christian Friedrich Lessing um gênero da família Asteraceae foi denominado Lessingia. Sprengel também foi homenageado ao nomear o gênero Sprengelia da família Ericaceae.
I. peucedanifolium var. srticum foi determinada e tem por eutoridade descrtiva Guadalupe Peter cuja abreviatura padrão é Guad.Peter.

Ameaças

Na região de Curvelo, Minas Gerais, as maiores ameaças para a espécie são principalmente a expansão da monocultura do eucalipto e a expansão dos empreendimentos imobiliários.

Notas

* Número que tende a variar conforme são publicados ou realizados novos estudos ao longo do tempo.
** Guadalupe Peter Doutora em Ciências Biológicas,  pesquisadora assistente na Conicet. As investigações sobre o gênero Isostigma aqui tratado se basearam, entre outros,em suas obras que constam como referências no tópico Saiba mais desta postagem. Mais uma vez reiterados agradecimentos.
*** Volker Bittrich Mestrado em Arbeitsbereich Systematik – Institut für Allgemeine Botanik, Universität Hamburg (1981) e doutorado em Allgemeine Botanik – Institut für Allgemeine Botanik, Universität Hamburg (1986) – Fonte: Fapesp. Curiosidade: Conheci o sue trabalho ao pesquisar sobre a família Clusiaceae, da qual trataremos aqui no blogue em outra oportunidade. Mais uma vez reiterados agradecimentos.
**** Jimi Naoki Nakajima Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1986) mestrado em Biologia Vegetal pela mesma instituição e doutorado em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (2000). Fonte: Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Biologia. Mais uma vez reiterados agradecimentos.


Uma raridade em Curvelo

A planta foi encontrada em Curvelo em uma única localidade em três oportunidades diferentes sendo distinguível ou percebida em meio a vegetação de Poaceas nativas apenas no período de floração, definido sempre no mês de outubro. Foram registrados quatro espécimes na conformidade vegetativa de cerrado campo sujo, dois deles dispersos e os outros dois muito próximos formando inclusive uma pequena touceira. Todo o conjunto vegetal, da base até o pendão onde se encontrava a flor mais alta media em torno de um metro de altura. As plantas estavam sempre a sol a pleno, emaranhadas em meio a capineira e distantes das  árvores ou arbustos maiores, o que indica uma característica heliofita – onde a capineira era densa I. peucedanifolium var. strictum apresentava as suas estruturas maiores estando sempre acima das gramíneas.
O domínio predominante na micro região onde os espécimes foram encontrados é o cerrado destacando-se o cerradão, cerrado stricto sensu  e o cerrado campo sujo – esta última a fitofisionomia em que encontra-se que a planta foi encontrada. A  média pluviométrica é mais precisa nos meses de novembro e dezembro com ápice geralmente em janeiro, contudo, os espécimes registrados apresentaram floração sempre no mês de outubro, quando tradicionalmente na região começa o período chuvoso mas não com precipitações significativas, estando, por exemplo, as gramíneas em meio as quais Isostigma peucedanifolium var. strictum se emaranha começando a despontar novas brotações e ainda apresentando demasia de estruturas vegetais secas.

 Foi observado a visita de agentes polinizadores, em especial Apis mellifera. Vale destacar o delicado e inebriante perfume que exala, mais perceptível quando cheirada de perto e nas primeiras horas do dia. Não foram possíveis visitas noturnas ao local onde os espécimes se encontram, o que inviabiliza informações sobre possíveis polinizadores que ocorrem nesse horário.
O habitat onde os espécimes foram registrados já está a três anos sem sofrer com queimadas e no corrente 2016 as flores aparentam maior vivacidade que quando registradas nos dois anos anteriores.
A procura por outros indivíduos nos arredores onde se encontram os espécimes e em outras localidades não logrou êxito, mesmo quando a fitofisionomia desses locais se assemelhavam ao do local dos registros. Pode-se compreender dessa forma que a raridade das espécies do gênero Isostigma, além dos fatores naturais, é ainda mais potencializada pela dificuldade de distingui-las no meio ambiente.

Agradecimentos: Volker Bittrich, Jimi Nakajima e Guadalupe Peter pela gentileza em responder aos e-mails, o que viabilizou a elaboração desse artigo.


Saiba mais: Systematic revision of the genus Isostigma Less.(Asteraceae, Coreopsideae) – Guadalupe Peter, Centro Nacional de Conservação da Flora – CNC Flora, Lectotypification and occurrence of Isostigma peucedanifolium (Asteraceae, Heliantheae) in Bolivia – Guadalupe Peter, The genus Isostigma (Asteraceae, Heliantheae) in Paraguay, with a key to the species of the genus – Guadalupe Peter, The genus Isostigma (Asteraceae, Heliantheae) in Argentina: two new records and notes on distribution – Guadalupe Peter, Synopsis Generum Compositarum Earumque Dispositionis Novae Tentamen, pag.235 Christian Friedrich Lessing, A família Asteraceae no Parque Estadual de Itapuã, Viamão, Rio Grande do Sul, Brasil – Mariane Elis Beretta, Ana Cláudia Fernandes, Angelo Alberto Schneider e Mara Rejane Ritter, Estudios Cromosómicos en el Género Isostigma (Heliantheae, Asteraceae) – Dematteis, Massimiliano – Fernández, Aveliano, Herbario IAC on line, Asteraceae, Caracterização e Morfologia Floral – Nádia Roque & Hortensia Bautista, Wikipedia

“Isostigma Linnaea VI. 513. Achaenium rostratum, obeompressum , eonforme, anguste alatum, alis in mucrones laevissimos excurrentibus. Stylus sexui utrique conformis, ramis appendiculis linearibus longissimisque superatis. Herbae Brasilienses , erectae, glaberrimae , rhizocarpicae, caule simplicissimo tantum basi foliato; capitulis magnis, speciosis, coctis aquam colore saturate fusco tingentibus; involucris campanulatis , bi-s. triserialibus; rhachide plana. I. simplicifolium, peucedanifolium = Tragoceras peucedanifolium Spreng., etc. Cf. Linnaeam 1. c.” – Synopsis Generum Compositarum Earumque Dispositionis Novae Tentamen, pag.235 Christian Friedrich Lessing

GMJP

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